O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

28.7.07

Nasci em Montes da Senhora, na Beira-Baixa. Há dias lembrei-me de consultar, pela primeira vez, o site da Junta de Freguesia e deparou-se-me um texto sobre uma figura que muito me marcou na infância, mas que estava esquecida num canto qualquer da minha memória – o médico Álvaro da Cunha. Foi ele quem assistiu ao meu nascimento e o principal responsável pela minha existência, porque o parto não estava a correr bem.
Era miúdo e sempre me intrigou a figura imponente de homem grande, mas um pouco deslocada (pensava eu..) naquela bonita e recôndita aldeia beirã. Agora, ao consultar o site da Junta de Freguesia, fiquei a conhecer melhor a história do dr. Álvaro da Cunha, o médico (e humanista) que tratava as mazelas das gentes dos Montes da Senhora.


Nascido a 17 de Janeiro de 1910, natural do Rossio ao Sul do Tejo, Abrantes. Foi diplomado pela Faculdade de Medicina de Lisboa em 12 de Novembro de 1938, inscrito na Ordem dos Médicos desde 14 de Maio de 1940 e casou, na Igreja Paroquial de Montes da Senhora, no ano de 1960, com Maria da Conceição Ribeiro da Cunha. Faleceu em 21 de Fevereiro de 1968. Veio viver para Montes da Senhora no início da década de 40 e aqui ficou até 21 de Fevereiro de 1968, data do seu falecimento.
A sua vinda para a nossa terra é ainda uma incógnita, mas poderemos apontar duas razões: uma de natureza pessoal e outra de natureza política. Ao radicar-se nos Montes da Senhora poderia ficar perto da sua mãe, que vivia em Proença-a-Nova, sede do concelho a que pertence a freguesia de Montes da Senhora. Para além disso, nos Montes da Senhora poderia praticar a medicina, de maneira humana, e a sua forma de estar na vida, sempre procurando ajudar os mais necessitados, faziam-no sentir realizado.
Houve, no entanto, outra razão: não nos podemos alhear da situação política vivida na época. Poderemos afirmar que uma das causas da sua vinda para os Montes da Senhora foi a situação de semiclandestinidade em que teve de viver, desde que se licenciou até à data do seu falecimento, isto é, cerca de 30 anos.
Nunca pôde exercer funções para o Estado (centros de saúde, hospitais...), atendendo a que as suas ideias políticas eram contrárias ao regime vigente. Exerceu medicina nesta aldeia do interior do país, em plena zona do pinhal, durante toda a sua vida, encontrou aí uma forma de ajudar os mais necessitados e possivelmente uma maneira de se refugiar da PIDE, onde tinha um processo e um boletim abertos, e que se encontram arquivados na Torre do Tombo. Esteve envolvido na campanha eleitoral do general Humberto Delgado à Presidência da República.
O seu nome foi dado a uma das ruas de Montes da Senhora, onde viveu – é a Rua Dr. Álvaro da Cunha.

Troquei uma «corrida» por um livro de poesia. Foi assim: o Nuno Silva, um bom amigo e agora também editor (Sombra do Amor), telefonou-me para transportar o último livro do jovem poeta M. Tiago Paixão («l´étranger the outkast ou o quarto sem ar»). No final da «corrida» fiz-lhe uma proposta: ele não pagava o serviço do táxi e, em contrapartida, eu ficava com um livro, autografado e tudo pelo autor... Já li e tirei uma conclusão: fiquei a ganhar!

26.7.07

São chatas como as moscas no Verão, as gralhas. Há tempos li um livro («De Profundis, Valsa Lenta») de José Cardoso Pires e fiquei chocado com tantas gralhas. A culpa não foi do autor (já falecido), mas naturalmente da editora. Durante largos anos lutei contra as gralhas (trabalhei como revisor). Apesar de tudo, chocam-me menos que alguns «emaranhados sintácticos» que se me deparam nas páginas dos jornais.
Há gralhas mais chatas que outras... Há dias, o jornal A BOLA dava conta, no «Cautchú», de uma daquelas gralhas que ficam para a história do jornalismo. Um jornal desportivo nortenho (não identificado) publicou «Sérgio Caralho», a propósito do nome de um jogador de futebol.




Mas se o exemplo acima citado é... gralha pura, há outras situações que me deixam os cabelos em pé... Muita gente, jornalistas incluídos, sente grandes dificuldades em distinguir «há» de «à», quando é tão fácil... Em A BOLA, recentemente, lá estão dois destes casos. Aliás, não se trata de gralhas, mas de erros ortográficos. No melhor pano cai a nódoa!

18.7.07

Bairro Portugal Novo, nas Olaias. Goza de má fama, mas isso não me impediu de levar lá um cliente. Fui baptizado com a primeira «banhada». O cigano chegou ao destino e não tinha dinheiro para pagar a corrida! Foi a casa e a mãe (?) não estava, mas voltou ao meu encontro, com mil promessas de que pagaria mais tarde.
Perante a situação, que fazer? Convenci-o a reentrar no táxi, ainda pensei em dirigir-me à polícia (a cerca de 200 metros), mas desisti da ideia e... fui tomar um café. Discretamente, perguntei à funcionária se o conhecia, disse-me que sim, que morava no bairro. O cliente prometeu deixar-me o valor da «corrida» no café, logo que a mãe chegasse a casa. No dia seguinte, mesmo sem esperança de recuperar o dinheiro, passei por lá, mas nada!Conversei com um cigano velho, contei-lhe a situação e sensibilizei-o para o facto de estes casos deixarem má imagem de uma comunidade pela qual até tenho simpatia.
São frequentes estas situações naquele bairro de Lisboa, habitado pela comunidade cigana, algumas delas muito mais graves, com roubo e agressão aos taxistas. Sou contra qualquer tipo de discriminação, mas assim não dá...

16.7.07

Fala pelos cotovelos. Às tantas, já nem oiço o que ele diz, limito-me a acenar com a cabeça. Ela, muito mais velha, não se cansa de apoiar as baboseiras dele. No final, ele deseja-me «muitas felicidades». Retribuo, nestes termos, desejoso de me libertar daquela «corrida»:
– Obrigado! Felicidades também para si e para a sua mãe...
– Mãe?! Ela é a minha esposa!!!

10.7.07

Transporto dois jornalistas do «24 Horas» ao Lavradio (Barreiro), em serviço de reportagem. Uma fuga de dióxido de enxofre na fábrica da Amoníaco de Portugal, propriedade do grupo Melo, deixou milhares de pessoas expostas a graves riscos de saúde. Enquanto os repórteres fazem o seu serviço, dialogo com várias pessoas. O cheiro é insuportável, quase tenho vómitos. Os carros têm marcas de enxofre. Como é possível viver ali, paredes-meias com a fábrica poluente?
Um habitante do Lavradio dá-me a sua explicação dos factos: «A Amoníaco de Portugal devia mudar os filtros da fábrica com regularidade, mas isso não acontece, porque vêm da Alemanha e são muito caros. Prefere sujeitar-se ao pagamento de multas, o que lhe sai muito mais barato.»
Não sei se esta versão está correcta (não tenho meios para a confirmar), mas não me custa acreditar que o meu interlocutor é capaz de ter razão...

8.7.07

As Sete Maravilhas do Mundo

A Grande Muralha da China, Petra (Jordânia), Cristo Redentor (Brasil), Machu Picchu (Perú), Chichén Itzá (México), Coliseu de Roma (Itália) e Taj Mahal (Índia) – estas as novas Sete Maravilhas do Mundo, escolhidas por mais de cem milhões de pessoas, entre 21 candidatas, e anunciadas esta noite num mega-especáculo no Estádio da Luz, em Lisboa.
A eleição das novas Sete Maravilhas do Mundo é uma iniciativa da New 7 Wonders Foundation, criada em 2001 pelo antigo produtor suíço Bernard Weber, e já foi criticada pela UNESCO, por não contribuir para a preservação dos locais eleitos e limitar-se aos votos de quem tem acesso à Internet ou ao telefone.

As Sete Maravilhas de Portugal

Mosteiro de Alcobaça, Mosteiro dos Jerónimos (Lisboa), Palácio da Pena (Sintra), Mosteiro da Batalha, Castelo de Óbidos, Torre de Belém (Lisboa) e Castelo de Guimarães foram os monumentos eleitos como as Sete Maravilhas de Portugal.