O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

19.11.11

«Dékuji»

O casal checo dirige-se para o aeroporto, rumo a Praga, mas antes pede-me para atravessar a «ponte metálica» (25 de Abril). Jindrich e Lenka falam espanhol e é fácil o entendimento. Querem levar na memória (estão de passagem) uma ideia panorâmica de Lisboa e não se cansam de fotografar: o Cristo Rei, as Amoreiras, o aqueduto das Águas Livres...
Falo-lhes do meu fascínio por Praga, cidade que espero um dia visitar. E de Franz Kafka, cujos livros devorei há largos anos.
Despedem-se com um «dékuji» (obrigado). Regresso à cidade para mais uma corrida, nostálgico, a pensar neste ritual fogareiro que me faz lembrar o «mito de sísifo»; condenado a este vaivém por um Zeus qualquer que não consigo desvendar. Sinto-me Joseph K., sem saber do que sou culpado; sinto-me Gregor Samsa, ou melhor, um insecto voador dentro desta coisa a que chamam táxi.