O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

28.11.05

Sábado para esquecer... Oficina de manhã, porque é preciso afinar a «máquina». Regresso à cidade e a primeira corrida surge já depois do meio-dia. As praças estão cheias de táxis, também não adianta andar por aí a queimar gasóleo... Hotel Mundial. Meia hora à espera. Estava quase decidido a partir, mas surge o tão desejado cliente: «Leve-me ao Montijo, sff.»
Respirei fundo, belisquei-me para ter a certeza de que estava vivo. «Ao Montijo?! Já safei a folha», pensei, sem deixar transparecer o que me ia na alma. Liguei o Mercedes e arranquei, rumo à ponte Vasco da Gama. «Sou guia turística. Vou almoçar a casa da minha sogra. O meu marido foi com o carro à revisão e não pôde vir buscar-me.»
«Abençoada revisão», pensei para com os meus botões. Toca o telemóvel da minha cliente. Indiferente à conversa, acelero na Av. Gago Coutinho. «Desculpe, mas o meu marido já vem na Vasco da Gama para me vir buscar. É possível deixar-me nas partidas do aeroporto...»
«Com certeza! Ainda estamos a tempo...», respondi com «fair play», mas ao mesmo tempo a pensar para comigo: «Tenho de ir à bruxa!»
A corrida rendeu seis euros e tal. A cliente deixou uma nota de dez e recusou-se a receber o troco. Siga a viagem!