O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

28.12.05

Já te conhecia, Lisboa, mesmo antes de ser taxista. Hoje percorro-te as veias, Lisboa, sinto melhor o teu pulsar. Milhares de pessoas invadem-te, Lisboa, logo pela manhãzinha. Parecem formiguinhas, Lisboa, em busca do pão. Ficas mais calma, Lisboa, nos fins-de-semana. És permanentemente esventrada, Lisboa, no Marquês de Pombal e no Terreiro do Paço as tuas feridas tardam a sarar. Roubaram-te o Cais das Colunas, Lisboa, mas tens os Jerónimos e o Castelo de São Jorge. Sinto orgulho, Lisboa, quando os clientes estrangeiros soletram a palavra «Jerónimos». Nesses momentos, Lisboa, sou o teu verdadeiro taxista. Saio do carro, Lisboa, abro-lhes a porta e aponto-lhes a obra-de-arte.
Fiquei a pensar, Lisboa, na reacção daquele estrangeiro quando saiu do táxi. Estava maravilhado, Lisboa, com a beleza dos Jerónimos. Desculpa qualquer coisinha, Lisboa, mas nós por cá, de tão habituados, já nem paramos para te admirar.