O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

27.12.05

«O senhor pode fazer uma perseguição?»

Estava eu numa noite, já indo para casa, quando uma jovem me deu sinal. Com o carro parado, pela janela ela me disse:
– Queria perguntar se o senhor pode fazer uma perseguição... É que eu parei um outro taxista e ele não aceitou!
Curioso, perguntei:
- O que é?
Ela entrou, sentou-se a meu lado e disse:
– Sabe o que é, motorista? Estou precisando de seguir o meu marido!
Disse-lhe:
– Olha, tudo bem! Só não quero confusão prò meu lado.
Ela:
– Tudo bem, para o senhor não vai ter problema.
Disse-lhe:
– Então vamos lá!
Ela, praticamente ajoelhada entre o banco e o painel do carro, pediu para que eu mantivesse o luminoso aceso. Imaginem a cena: a mulher praticamente agachada, aparecendo somente a sua cabeça.
E assim começámos a perseguição, que iniciámos no bairro do Alto da Lapa, pegámos a Rodovia Anhanguera, entrámos no Jardim Sto. Elias e, de longe, começámos a sondar o marido dela, que entrou numa casa com a menina que teria saído com ele juntamente do local onde iniciámos a corrida, ou seja, local onde ele trabalha.
Após alguns minutos de espera, o casal saiu e começámos novamente a segui-los. A próxima parada foi noutra residência, no bairro do Piauí. Nesse local ficámos mais tempo. A mulher traída ficou o tempo todo agachada, mais ou menos uns 15 minutos. Eu, acompanhando a cena, perguntei-lhe:
– Olha, eu não tenho nada com isso, só queria saber: o que você vai fazer?
Ela respondeu-me:
– Podemos ir embora, motorista; o que eu queria descobrir, já descobri.
E continuou:
- Por favor, me leve para a minha casa.
Liguei o carro e levei-a à sua residência (morava no Jardim São Luiz, próximo ao Centro Empresarial Santo Amaro).
Que situação complicada, né pessoal? Pode parecer esquisito, mas aconteceu.

(Texto extraído, com a devida vénia, do blog brasileiro «diário do taxista»)