O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

25.1.08

Polícia sinaleiro e poeta popular

Foi polícia sinaleiro em Lisboa. O sr. Marques está reformado e dedica-se agora à poesia. Durante a viagem Avenida de Roma-Hospital Militar da Estrela não parou de conversar. É um daqueles «velhotes» simpáticos, faz-me lembrar o «Cuca», da Amadora, também ele poeta popular e homem-dos-sete-instrumentos. O sr. Marques, na sua lucidez, insurge-se contra José Sócrates: «Aumentou a idade das reformas porque aumentou a esperança de vida. Mas nós não vivemos... Vegetamos!» Pois...

«Ó sr. Marques, venha cá...
temos muito que falar...
O dinheiro que me deve
quando é que me o há-de dar?»

«O dinheiro que lhe devo
tenho tempo de lhe o dar
Se não ganho pra comer
quanto mais pra lhe pagar...»

Fixei estes versos. Às tantas, fiquei imobilizado no trânsito e o sr. Marques não perdeu tempo:

«Tal como quem chupa um rajá...
... a gente há-de chegar lá...»

Final da corrida, as despedidas:

«Como nasci no Brasil
e sou português...
Talvez voltemos a encontrar-nos
uma próxima vez...»

Talvez...