O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

12.12.07

Rua Augusto Macedo – taxista (1904-1997)

Ser taxista é duro e desgastante, mas também existe o lado positivo. Cada cliente é uma caixinha de surpresas. Há tempos senti dificuldade em lidar com um drogado, em ressaca. Conduzi o carro (e a conversa...) de forma a levar o barco a bom porto. Dialogando sempre, ouvindo o que o jovem tinha para desabafar.
Aprendo sempre algo com os clientes. Como foi o caso daquela senhora idosa que transportei do El Corte Inglês para Telheiras.
– É para a Rua Augusto Macedo. Conhece?
Não conhecia. Mas a senhora idosa, com grande simpatia, deu-me uma ajuda.
– O ponto de referência é o Carrefour. A maioria dos seus colegas não sabe que Augusto Macedo foi taxista.
Lá está, bem no coração de Telheiras: «Rua Augusto Macedo – taxista; 1904-1997» Fiquei a saber que os taxistas estão perpetuados, através de Augusto Mateus, numa rua de Lisboa. E bem merecem! Aliás, merecem muito mais... Talvez uma grande avenida, daquelas que atravessam a cidade. Mas já foi bom saber que alguém se lembrou desta classe tão desprotegida.
Ainda a propósito de Augusto Macedo. Foi contemporâneo do meu tio Bernardino, mais conhecido por «Crespo» – taxista desde que me lembro, já falecido. Guardo do meu tio as mais gratas recordações. Viajei imensas vezes no seu táxi e nunca esqueci a matrícula: DD-88-OO. Era um Homem de grande humanismo e, estou certo, fez amizade com muitos clientes. Também merecia ser perpetuado numa rua desta Lisboa que foi sua. Conhecia-lhe todos os segredos, todas as artérias, todo o seu pulsar.
Lembro-me muitas vezes do meu tio «Crespo», em especial quando paro na «sua» Praça Paiva Couceiro. E revejo-o em muitos taxistas idosos que continuam «agarrados» às máquinas. Como se Lisboa fosse a sua casa e não conseguissem desligar-se dela.