O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

23.1.06

Praça da Gare do Oriente – É ainda jovem, aquela mãe espanhola. Vinte e quantos anos? Traz a Valéria ao colo, mais uns tantos sacos de supermercado e um garrafão de água mineral. Pergunta-me quanto custa levá-la ao hospital prisional de S. João de Deus, em Caxias. Deduzi que iria visitar o pai da Valéria, de dois anos, mas nada perguntei durante a viagem. Apenas dirigi algumas palavras à menina, que olhava para mim com aqueles olhos lindos, negros e pestanudos.
Apeteceu-me oferecer a viagem àquelas duas criaturas, mas não tive coragem. Deixei-as à porta do hospital prisional de Caxias, sem saber quem iam visitar. Nem isso importava! Regressei à cidade a pensar nos olhos lindos da Valéria, uma menina espanhola que, muito provavelmente, tem o pai na prisão. E também naquela mãe jovem que, muito provavelmente, veio de longe, a contar os euros, para abraçar o seu grande amor.