O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

13.1.06

Praça das Amoreiras – Bem sei que muitas pessoas gastaram as economias no Natal e no Ano Novo; bem sei que o mês de Janeiro é sempre fraquinho para os taxistas. Apesar disso, nota-se que há crise em Portugal. Hoje foi um daqueles dias em que mais valia ter ficado em casa. Ao meio-dia, ainda nem tinha feito meia folha... Quando assim acontece, recorro ao «abono de família» dos «fogareiros»: Cais do Sodré e Amoreiras. São praças que estão sempre a «pingar»...
Estou em primeiro lugar nas Amoreiras. Um miúdo entra no táxi, desempoeirado: «Leva-me à Costa de Caparica?!» O miúdo é o Francisco e tem 12 anos. «Não te importas de pôr o cinto!» Fiz o mesmo e rumámos à ponte 25 de Abril. Espevitado, o Francisco foi excelente companhia. Falou de surf, do pai que também é surfista e viajou para a Austrália, dos táxis pretos de Londres, da sexta-feira/dia 13 («acredita mesmo que dá azar?»)...
«Gosta de ser taxista?» Demorei um pouquinho a responder: «Gosto! É uma vida livre... Mas é preciso trabalhar muito para fazer uma folha decente...»
«Folha? O que é isso?» A corrida estava a chegar ao fim. Antes de ir para casa, o Francisco foi inteirar-se das ondas. «Se estiverem boas, ainda vou surfar.»
Obrigado, Francisco! Pela tua companhia e por me teres ajudado a completar a folha.