O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

10.1.06

Racismo não, obrigado!

Ainda sou novo nestas andanças de taxista. Ainda não passei por situações complicadas. Sei de taxistas que foram assaltados, que passaram por momentos difíceis. Não aceito a discriminação; não aceito o racismo. Naturalmente, tomo as minhas precauções. Sei que um dia posso ter uma surpresa. Mas não tem a ver com a cor da pele, com a nacionalidade dos clientes.
Um grande amigo meu, do peito, é de origem africana (Guiné) e contou-me que é difícil apanhar táxi, à noite, na zona onde mora. Custa-me aceitar esta situação.
De vez em quando faço uma incursão pela noite (normalmente trabalho durante o dia). Três jovens africanos mandaram-me parar na zona de Campo de Ourique. Não recusei o serviço, mas não consegui afastar a ideia de que seria um alvo fácil para aqueles jovens, se eles viessem imbuídos de más intenções. O medo, confesso, estava apenas na minha cabeça! São músicos, vinham de tocar num bar e a viagem até Oeiras foi bem divertida. Gente fixe!
Outra situação em que não consegui evitar o medo: meia-noite, praça de táxis das Amoreiras, dois cidadãos estrangeiros entram no táxi, falam português, mas também uma língua esquisita que não consegui identificar. Fomos ao Bairro da Serafina. Fiquei à espera de uma terceira pessoa, numa rua com fraca visibilidade. Pensei: «É hoje!» Afinal, eram imigrantes romenos, foram buscar um amigo e levei-os aos Restauradores, onde ficaram a beber uns copos.
Ainda outra situação, na Estrada de Benfica. Um táxi, à minha frente, recusa o serviço a uma cidadã cigana. Não foi o meu caso. Parei e a cliente dirigiu-se à Maternidade Alfredo da Costa, onde àquela hora nascia a sua netinha.
Nada de aventureirismos, porque a noite está perigosa. Mas a violência pode vir de onde menos se espera. E não tem a ver com a cor da pele!