Artur, o taxista romântico

É assim em todas as quadras natalícias e pascais, bem como no Dia Internacional da Mulher. Mas não o é nem «jamais será no Dia dos Namorados». Nesta data que considera «muito especial», as prendas «devem ser partilhadas entre o casal. Um forasteiro não deve intrometer-se».
Este «forasteiro», que se ganhasse o euromilhões dedicar-se-ia exclusivamente às causas humanitárias, não pode dar-se ao luxo de parar de trabalhar para exercer «essa nobre missão». E é precisamente no seu local de trabalho, o táxi, que procura ser solidário, dia após dia.
Com a Classe FM ou a Antena 2 sempre sintonizadas, é através da música clássica ou do jazz que «transporta» o passageiro - para ele a palavra cliente não existe - para outra dimensão. Como no início do namoro, também aqui a música marca a diferença na relação que se estabelece entre duas pessoas.
«Há quem prefira ir calado. A saborear a música. Outros encontram neste ambiente acolhedor e inesperado o local ideal para desabafar», conta Artur, revelando toda a sua sensibilidade para com quem se sente carente. O sorriso sempre nos lábios e o olhar atento no espelho retrovisor convidam à confidência.
E é no Natal e na Páscoa que as sensibilidades mais se manifestam e a carência mais aperta. Artur, pelo menos, pensa assim. Daí ter surgido a ideia de, nessas datas, dar algo a quem, por um motivo ou outro, lhe toca o coração. Um acto que já lhe proporcionou «uma boa carteira de passageiros e sobretudo de amigos». E de namoradas? «Não, isso nunca aconteceu.»
(«Diário de Notícias», 14 de Fevereiro de 2006)
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