O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

1.2.06

Estou de volta às «corridas», depois de três dias de descanso para recuperar energias. Grande agitação em certas zonas da cidade, por causa de um norte-americano que dá pelo nome de Bill Gates. Vou ao Hotel Ritz levar um casal grego e depara-se-me autêntico aparato policial. Nem me deixaram fazer contas com os clientes – obrigaram-me a estacionar mais à frente e fiquei com a impressão de que alguém estava a registar a matrícula do «meu» táxi. Segurança oblige!
Decidi dar a volta e estacionar na praça de táxis, quase em frente à porta principal do hotel. Polícia e mais polícia, nunca tinha sentido os meus gestos tão vigiados. Para mais tenho este ar meio árabe, meio cigano... Até o simples gesto de levar a mão ao bolso e tirar o maço de cigarros parecia despertar a atenção dos agentes, uns fardados e outros à paisana (deduzi).
Nisto chega um taxista que costuma parar no Ritz. Começámos a comentar a situação e ele aponta para os telhados dos prédios vizinhos: «Estão cheios de polícia!» Assustei-me com o gesto do meu companheiro de trabalho... Não vi qualquer polícia nos telhados, mas senti-me ainda mais vigiado... «E se pensam que eu sou um taxista ao serviço de quaisquer interesses obscuros?»
Nisto, respirei fundo, fumei um cigarrinho e decidi desfrutar aquele momento da presença do homem mais rico do Mundo. Uma limusina estava estacionada em frente do hotel. Carros de alta cilindrada entravam e saíam. Gente bem engravatada andava num rodopio... Finalmente, chega um cliente. «Leve-me ao Rossio!»
Ora bolas! O que eu gostaria de ter transportado o sr. Bill! Tinha umas coisinhas para lhe dizer... Fica para a próxima!

PS – Não escondo que sinto simpatia por Bill Gates. Não por ser multimilionário, mas porque o considero um homem inteligente e que em muito contribuiu para o progresso da humanidade. Em conversa com o meu amigo Sérgio, ele veio com argumentos que não favorecem muito o pai da Microsoft (leia-se Maicrosoft, por favor!). Ou seja: que o sr. Bill, afinal, não é santo. Assim seja! Mesmo com todos os seus «pecados», que devem ser muitos, não consigo deixar de admirá-lo.