O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

9.2.06

O meu cliente tem 80 anos e ainda não deixou de trabalhar (se o eng. Sócrates sabe disto... aumenta ainda mais a idade da reforma!). Tem uma loja na Baixa, vive em Sintra e vem todos os dias de comboio até Sete Rios, depois apanha um táxi para o Rossio. «Se fico em casa, enlouqueço... Não que faça muito lá na loja, mas como sei onde estão todas as coisas, sempre dou uma ajudinha...»
Fala-me de muitas vivências e do estado a que chegou, quase cego. Dá-me um aperto de mão na despedida: «Nota-se que é boa pessoa. Não tenha medo da vida!»
Apetece-me dizer-lhe que ando cheio de medos da vida, das «armadilhas da floresta». Mas fico a olhar aquele homem de 80 anos, ancorado na bengala, a caminhar em direcção à sua loja, na Rua do Ouro.