O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

11.2.06

Quando estou a falar com alguém, intensamente, detesto que terceiros (aqueles que não fazem parte do círculo inicial) me interrompam. De facto, fico enraivecido quando o fazem.
Ultimamente ando mais susceptível a esta transgressão, talvez porque todos os momentos sociais que arranjo são de ouro.
Um dos indivíduos que mais detesto é o empregado de mesa. Tem a mania de que é preciso quando não é, e não se encontra em lado algum quando é.
Odeio o taxista, quer vá sozinho ou acompanhado. Gostava de saber quem é que lhe disse que estou interessado em falar com ele ou em ouvir as suas opiniões do estado actual da sociedade. E, claro, também tem a mania de interromper conversas com sugestões, como se o conhecesse de algum lado.
Detesto o patrão. Se estou a falar muito bem com o(a)s colegas, tem a mania de chegar nos momentos mais inconvenientes (a meio de fortes gargalhadas) e começar a distribuir trabalho.
Detesto os vizinhos (as vizinhas boas escapam...), que têm a mania de nos cumprimentar quando nos vêem na rua, especialmente se estivermos a conversar com outra pessoa. Não bastaria um simples aceno? Um «olá» mudo à distância? Aparentemente não! Têm de vir dar o ar da sua graça e interromper-me!
Estas criaturas irritantes desconhecem as regras de contacto com seres humanos. Qualquer dia passo-me da carola e dou uma valente sova numa delas...

André Cardoso, in blog «Vozes da Revolta»