O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

17.2.06

Taxista do pedal

O dia amanhece abafado. São sete horas e o termómetro já passa dos 25 graus. Saio sonolento pelas ruas de Porto Alegre, resultado de uma noite às voltas com os mosquitos. Será um dia longo e quente.
Em Londres, a essa hora da manhã, meu amigo Thiago, com certeza, já pedala pelas ruas geladas da capital inglesa – a temperatura lá anda girando em torno de zero graus. Quase o invejo. O Thiago é filho de uma vizinha minha. O guri foi para Londres num programa de intercâmbio cultural. No exterior, não conseguindo coisa melhor, acabou aceitando um emprego subalterno, destes reservados a imigrantes: taxista.
Na verdade, em Londres, os taxistas são muito respeitados. Operam um dos serviços de táxi mais prestigiados do Mundo. Meus colegas londrinos passam por um processo de seleção rigoroso antes que possam exercer a profissão. Para brasileiros recém-chegados, como o Thiago, sobram as vagas de biketaxi: taxista de bicicleta.
Um dia destes, conversando com o Thiago pela Internet, ele me falou da rotina puxada ao pedal. As bicicletas são adaptadas para transportar dois passageiros. É preciso força física e destreza ao guidão. Mas o trabalho ajuda a aprimorar o idioma e a bancar as despesas, além de atenuar o frio e a saudade de casa.
Enquanto isso, por aqui, só no meio da tarde eu consigo parar para almoçar. Resolvo fazer apenas um lanche – com esse calor infernal, a fome vai para o espaço. Enquanto decido o que comer, imagino o Thiago em Londres, com a bicicleta encostada, tomando o chá das cinco para esquentar os ossos. Trichique! Decido tomar um guaraná bem gelado. Para acompanhar, peço um bolo. Inglês.

Mauro Castro, in blog «taxitramas»