O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

12.5.06

«Capitães da areia» à portuguesa

Azinhaga dos Besouros, um dos mais de 30 bairros degradados do concelho da Amadora. Miúdos interrompem as brincadeiras e aproximam-se. Dizem-nos que é arriscado circular nestes espaços, que alguns destes putos, quais «capitães da areia», são perigosos. Custa-nos aceitar o aviso. Num abrir e fechar de olhos, porém, surgem duas motos junto ao táxi. Eram miúdos crescidos. Apercebi-me de que vinham em missão de reconhecimento.
«Bando de jovens africanos assalta banhistas na praia de Carcavelos», ouvimos, em tempos recentes, numa estação de rádio portuguesa. Leituras destas são frequentes. Certa comunicação social cai no erro de considerar que estes actos de vandalismo são executados por «jovens africanos». Mas não é verdade! São miúdos portugueses. Nasceram em Portugal e vivem nos subúrbios das grandes cidades.
Herman José tem origem alemã e ninguém diz que é alemão. É tratado como português, porque nasceu em Portugal. Estes miúdos também. Os pais é que são africanos! Vivem em situação precária, os homens trabalham nas obras, as mulheres nas limpezas.
Que fazer para alterar esta mentalidade? A comunicação social tem grandes responsabilidades quando analisa fenómenos com este melindre. E tem de assumir, de uma vez por todas, que estes jovens que praticam actos ilícitos são tão portugueses como eu ou o Presidente da República. Como a Carla Sacramento, a Sara Tavares, o Nuno Delgado, o Eusébio... Ninguém diz que são africanos, mas sim portugueses.
Na cultura, no desporto, nas medalhas olímpicas... são portugueses; nos assaltos... já são africanos!