O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

19.6.06

Esteve em Portugal em 1998, por altura da EXPO, integrado no «Navio Escola Brasil» (equivalente à nossa «Sagres»). É capitão-tenente aposentado da Marinha brasileira e vive em Maceió/Alagoas. Breve estada em Lisboa, vindo de Paris e com destino ao Recife. Eram onze da manhã e formulou-me um desejo, quase um pedido: almoçar caldo verde e bacalhau e... estar à uma hora no aeroporto.
Petrúcio queria evitar a todo o custo a refeição no avião e, por outro lado, saborear o bacalhau português («o melhor do Mundo») e beber um vinho tinto do Alentejo. «A esta hora de domingo vai ser muito difícil...», disse-lhe, enquanto pensava já na melhor solução para não o desiludir. Fui a um restaurante no Bairro Alto e... nada!; dirigi-me a outro, bem perto, e nem sequer tinha as mesas postas.
«E agora?» Ainda pensei em levar o capitão Petrúcio a minha casa, cozinhar duas postas de bacalhau com batatas, regá-lo com bom azeite de Castelo Branco e abrir uma garrafinha de tinto. Mas depressa mudei de ideias...
Àquela hora, só mesmo o Galeto! Sou conhecido na casa, mas não às onze da manhã... Costumo frequentá-la mais ao fim da noite. Estacionei o táxi e acompanhei-o. Falei com a empregada, bem simpática. «Eureka!» Um dos pratos do dia era bacalhau assado no forno! E caldo verde... há sempre!
O capitão Petrúcio ficou com um brilhozinho nos olhos e convidou-me para almoçar. Mas como?, se tinha tomado o pequeno-almoço há pouco tempo... Fui dar uma voltinha, fiz mais duas «corridas» e ao meio-dia e meio lá estava, à porta do Galeto. Petrúcio já estava sentado na esplanada, feliz da vida. «E o vinho?», quis eu saber. «Bebi Borba. E o pessoal atendeu-me muito bem.»
Rumámos ao aeroporto. Trocámos números de telefone e estou convidado para umas férias em Maceió. Não sei quando, mas isso que importa? O gesto é tudo!