
No final do programa li (na Internet) uma entrevista de Agualusa ao jornal «Época», na qual fala de António Lobo Antunes e José Saramago, da melancolia portuguesa e de muito mais... Não resisto a transcrever, com a devida vénia, duas passagens dessa entrevista:
ÉPOCA - E os autores portugueses?
Agualusa - São todos terrivelmente melancólicos. Não há personagem de autor português que não se suicide no final. Os portugueses parecem alguns autores paulistas actuais, soturnos e pessimistas. E há aqueles que não escondem a nostalgia do império e inventam um herói, sempre português, que percorre a África e a América, em geral povoadas por coadjuvantes sem importância. Ultimamente, porém, tenho lido autores jovens - Francisco José Viegas e Pedro Rosa Mendes - que já conseguem olhar para as antigas colónias com olhos menos colonialistas. O maior escritor lusitano da actualidade chama-se António Lobo Antunes. Ele é difícil na sua linguagem cheia de metáforas, é mesmo exagerado e sombrio, mas no meio de extensas zonas de sombra encontram-se golpes luminosos. Só que há poucos portugueses com humor depois de Eça de Queirós.
ÉPOCA - Por falar nisso, não citou o Nobel José Saramago. O que acha dele?
Agualusa - Ele pode ser um grande escritor. «Memorial do Convento» é um excelente romance. Mas não gosto dele. Saramago cultiva o niilismo. É um pessimista que não acredita na vida e os seus livros são contaminados pelo desencanto. É difícil escrever quando se descrê completamente da vida. Um grande romance deve ser feito com raciocínio, mas também com paixão, as vísceras e o coração. No seu último livro, «Ensaio sobre a Lucidez», Saramago faz a defesa do voto em branco, o que é ridículo, pois ele candidatou-se como deputado pelo Partido Comunista. José Saramago é vítima da própria descrença. É um velho.
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