O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

27.10.06

Júlio/Saul Dias. Irmão de José Régio. Viveu no Porto, colaborou em vários jornais, cultivou o desenho, a pintura e a poesia. Há uma relação muito próxima entre a sua produção poética e a sua actividade como artista plástico. Tomei contacto com a sua obra através da Maria João Fernandes, que publicou um livro («Um destino solar») sobre o autor, na Imprensa Nacional. Vale a pena conhecer a obra deste artista multifacetado.
«Quando se ama o abismo é preciso ter asas», assim explicou Júlio/Saul Dias, através de Nietzsche, as várias e complementares vertentes da sua obra. «Sonho com um futuro em que a felicidade seja possível. Mas já me disseram que pinto um amor que não existe», acrescentou.


Escrevi um livro.
Quantos anos a sonhá-lo,
A rascunhá-lo nas mesas dos cafés,
A escrevê-lo nos intervalos do emprego,
A vivê-lo,
A sofrê-lo,
Na província, nas cidades...!

Criei um filho.
Tanta alegria no meu coração!

Só ainda não plantei uma árvore.
O frágil caule como protegê-lo?
Como não deixar que os bichos
Maculem as pequeninas folhas?
E como dialogar com uma árvore-menina?
Agora vai sendo tempo.
Os anos já me pesam.
Amanhã vou plantar uma árvore.


Saul Dias («Essência»)