O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

6.12.06

Na Holanda mandam as mulheres e os ciclistas

O António Pereira, esteja onde estiver, será sempre um dos meus melhores amigos. A crónica que a seguir transcrevo (com a devida vénia...) foi escrita na Holanda, ainda ao serviço de A BOLA.

Na Holanda mandam as mulheres e os ciclistas. Estes últimos estão em todo o lado, surgem do nada e atravessam-se à frente dos carros com a mesma naturalidade com que falam ao telemóvel ou montam a bicicleta de canadianas aos ombros, serpenteando alegremente pela infindável rede viária de que dispõe toda a cidade.
Eu, eterno pendura, divirto-me com esta saudável irresponsabilidade, enquanto o Pona, mais rotinado na agressividade verbal das estradas portuguesas, não se cansa de praguejar contra estas melgas, mas tão consciente como eu de que atropelar um deles é mais grave que abalroar uma vaca sagrada nas ruas de Bombaim.
A mesma consequência enfrenta o marido que se atreva a violar o espírito da «ladies night», ou não fossem as rainhas o maior factor de união do povo holandês. Juliana ou Beatriz, uma delas deu um forte contributo à causa feminina ao institucionalizar as quintas-feiras como o dia da mulher, o mesmo é dizer que o marido fica em casa a tomar conta dos filhos, enquanto a mulher sai para o forrobodó ou o que bem lhe apetecer. E escusam eles de montar vigilância, porque em toda a cidade os bares e as discotecas só permitem entrada aos homens já a meio da noite.
Para mim, será, porventura, o maior desafio ao meu conceito de igualdade de direitos e abstenho-me de dizer publicamente o que penso do assunto. Mas dei comigo a rir sozinho nas ruas de Amesterdão, só de imaginar a reacção de alguns maridos que conheço em Lisboa se fossem induzidos a fazer esta pequenina cedência...

António Pereira