O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

27.12.06

Ramona (avó), Maria Luísa (filha) e Gemma (neta) estão de visita a Lisboa e seguem esta semana para o Funchal, onde passam o Ano Novo. Três catalãs de Barcelona, três gerações. Coube-me ser motorista e guia turístico e confesso que passei dois dias muito agradáveis. No primeiro visitámos Lisboa; no segundo viajámos por Sintra, Cabo da Roca, Guincho, Cascais, Estoril... Deram-me luz verde para escolher os melhores locais e penso que não defraudei as expectativas das minhas clientes.
[Apenas um senão: ontem, terça-feira, houve tolerância de ponto e o Palácio da Pena esteve fechado. Fiquei sem palavras! Como é possível? Centenas de turistas à porta, incrédulos! Somos o «país do absurdo, um país sucessivamente adiado», como afirmou Alexandre O’Neill.]
Dois dias de viagens e... muitas conversas. A avó Ramona, de 87 anos, lúcida e com memória de elefante, falou-me dos tempos em que a língua catalã era proibida na própria Catalunha; e das barbaridades da Guerra Civil de Espanha. Maria Luísa, mais reservada, não se deu bem com as curvas da serra de Sintra (apesar da condução suave...) e só no Cabo da Roca deu um ar da sua graça, maravilhada com a paisagem deslumbrante.
A conversa com Gemma versou outros temas. Advogada em Barcelona, falámos de política, economia... Disse-me, nomeadamente, que o «boom» da economia espanhola chegou ao fim. E a questão da autonomia da Catalunha?, quis eu saber. Gemma esboçou um sorriso: «Damos muito à Espanha e nada recebemos em troca.»
Despedimo-nos no átrio do bonito Hotel Pestana Palace. A avó Ramona fez questão de dar um beijinho ao motorista. E eu fiquei embevecido com a simpatia destas três catalãs que me proporcionaram dois dias bem diferentes.
– Gràcies! (em catalão)
– Obrigado!