O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

7.1.07

Chegou ao fim o «Livro Aberto», programa de Francisco José Viegas, na RTPN. Vou sentir a sua falta! Por ali passou gente muito interessante que não me cansava de ouvir falar de livros e... não só. E, depois, aquele jeito calmo de entrevistar, de conversar... Também nós, aqui deste lado, sentimos tristeza.

Foram três anos e meio de emissões semanais, mudanças de horário e muitos autores entrevistados – cerca de duzentos e cinquenta. Pessoalmente, sinto alguma tristeza, mas provavelmente ao fim de três anos e meio o Livro Aberto já tinha cumprido uma parte da sua missão. Era recordado no final de cada ano como «o magazine de livros», mas muitos editores continuavam a queixar-se de que «não existia um programa de livros» – simplesmente, não o viam, dedicados que estavam à indústria da queixinha.
Não interessa. Acabou mesmo. Passou por lá muita gente de que gostei bastante; muitos autores que descobri e que tive de ler; muita gente que foi uma surpresa; e muita gente que me ia adormecendo em estúdio, evidentemente.
Não guardo ressentimentos por eventuais injustiças cometidas contra o programa (sobretudo por parte da imprensa, que às vezes se distraía), mas é chato ter de reconhecer que às vezes se fez um esforço (de produção, de leitura, de organização) nem sempre aproveitado. É quase sempre assim.
Faço este género de programas desde 1995, primeiro com o Escrita em Dia, na SIC, depois com o Ler para Crer, na RTP, passando por outras experiências que não fizeram de mim «um homem da televisão» mas que me ajudaram a conversar com os outros. Sei, hoje, que entrevistar é, sobretudo, estudar os temas e saber ouvir «os outros», que são as figuras da entrevista – para criar pontes e, às vezes, cumplicidades. E também criar armadilhas, evidentemente (é esse o jogo).

Francisco José Viegas