O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

26.4.07

Há tempos cruzei-me com Eusébio. O encontro aconteceu por acaso, porque temos um amigo comum. Comecei a gostar de futebol, em grande parte, por causa de Eusébio, Simões, José Augusto, Coluna, Torres... Tinha 15 anitos e lembro-me bem do célebre jogo com a Coreia do Norte, no Mundial de 1966, em Inglaterra. Vinha do aeroporto, no «carocha» de um funcionário da TAP (Ribatâmega de seu nome), onde fui buscar serviço dos enviados-especiais de «A BOLA» (Vítor Santos, Carlos Pinhão e Nuno Ferrari). Ouvíamos o relato e quando o «king» deu a volta ao jogo foi o delírio na Avenida da República, perto do Saldanha. Lisboa parou! Para um puto recém-chegado à cidade, oriundo de uma bonita mas recôndita aldeia beirã, aquilo foi o máximo...
Fui mordido pelo «bichinho» do futebol e depois assisti a inúmeros jogos do Benfica. Confesso que nunca vi alguém jogar como Eusébio. Bem sei que houve polémica na escolha do «melhor do século»; bem sei que temos Pelé, Maradona, Di Stefano, Puskas, Cruyff, Platini e tantos outros na galeria dos melhores. Tudo isso é verdade e discutível, mas ninguém conseguirá apagar da minha memória a magia de uma bola nos pés de Eusébio. Para mim, foi o maior. Assim como Pelé foi o maior para os brasileiros. E Maradona para os argentinos...
A conversa com Eusébio foi, para mim, uma espécie de «ajuste de contas» com o passado. Falámos de futebol e também de Vítor Santos, Carlos Pinhão, Nuno Ferrari... O «king» tem memória de elefante. Lembra-se de «estórias» fascinantes e conta-as naquele seu jeito calmo e sábio, à boa maneira de «seculo» africano.
Eusébio teve hoje alta do hospital, onde foi submetido a delicada intervenção cirúrgica. Não pertenço ao imenso rol de amigos do «king» (o nosso encontro foi ocasional...), mas gostaria de deixar aqui um voto de rápida recuperação àquele que foi um dos meus ídolos da juventude.