O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

6.1.07

Uma questão de palavras

Um dos grandes problemas do nosso jornalismo desportivo actual radica na oposição qualidade versus quantidade. Em quinze anos saltou-se de três jornais trissemanários (A Bola, Record e Gazeta dos Desportos) para três jornais diários com uma média de 46 páginas cada um (A Bola, Record e O Jogo). Ora não é possível fazer todos os dias nas actuais condições o jornalismo com alguma qualidade que se fazia nos jornais antigos.
Dou apenas dois exemplos. O Sport Lisboa e Benfica foi fundado em 1908, mas festejou o seu falso centenário em 2004, com a complacência dos três jornais diários em cujas páginas nenhuma voz se levantou para dizer a verdade.
Outro dia, o Lyon venceu o Werder Bremen por 7-2 e o título de uma crónica não assinada num dos jornais desportivos diários era este: «Apetite foraz de Lyon», quando deveria ter sido «Apetite voraz de Lyon».
Não é só um problema de dislexia transposto para o jornalismo. É também a ausência de revisores, essa classe perfeitamente dispensável para alguns administradores de jornais que dizem muito compenetrados a sorrir: «Os computadores fazem isso!»
Santa ignorância, a dos administradores: os computadores podem vigiar a ortografia, mas só um ser humano com a sua inteligência e intuição pode perceber o sentido. Como aquela história da expressão «chicória» humana atribuída por um jornalista ao dr. Dias da Cunha, em vez de «escória humana» que ele tinha dito de facto.
Uma questão de palavras…

José do Carmo Francisco