O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

16.4.07

Estação de Santa Apolónia (comboio do Entroncamento) – É homem de 30 e poucos anos, vem sozinho e sem bagagem. «Leve-me à Meia-Laranja!» Senta-se à frente, a meu lado, e quando tal acontece já sei que se trata de cliente disposto à conversa. Traz consigo o jornal «Correio da Manhã», cuja capa relata a prisão de três dos suspeitos de homicídio da funcionária de uma bomba de combustível em Benavente. E a conversa começa por aí...
Condena a atitude «bárbara» dos assaltantes: «São estúpidos! Confrontados com a presença súbita da GNR, só tinham de disparar para os pneus do jipe e pôr-se em fuga... Matar não!»
Ganha a confiança do taxista e... desabafa. Vem «matar saudades» do Casal Ventoso... Passou largos anos na prisão, condenado por assaltos a residências. «Mas nunca matei; seria incapaz!», faz questão de sublinhar.
Hoje trabalha numa fábrica, mas a adaptação à liberdade não está a ser fácil. «Saímos da prisão e fecham-se-nos todas as portas, a nível social e profissional. Consegui este trabalho, mas ganho uma miséria. De vez em quando ainda tenho necessidade de arranjar uns trocos para vir aqui à Meia-Laranja. Mas não quero voltar lá para dentro...»
Um dia, estava a assaltar uma vivenda e foi surpreendido com a entrada da proprietária, que regressou a casa para levar algo de que se tinha esquecido. Escondeu-se, manteve-se calmo e depois fez o que tinha de fazer. «Muitos ficariam nervosos e fariam coisas despropositadas...»
Meia-Laranja. Mal chegou, o meu cliente foi de imediato abordado por vários dealers. Negoceia-se às claras... Sei lá o quê?!