O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

24.4.07

Já aqui falei da necessidade que algumas pessoas sentem de desabafar. Julgo que sou um taxista com bom ar (passe a imodéstia...) e, assim sendo, basta um clique para despoletar uma conversa no interior do carro. Falo com gente de várias condições sociais e culturais e essa é a parte mais gratificante desta vidinha de «fogareiro». Sou incapaz de forçar o diálogo no sentido de saber algo mais do cliente – algumas pessoas é que precisam de comunicar!
M. é mulher com bom aspecto, à volta dos 50 anos. Transporto-a a uma clínica da zona de Entrecampos, onde faz tratamento. Conta-me que foi «apanhada» pelo bichinho do tabaco. Tento confortá-la, dizendo-lhe que a vida está cheia de armadilhas, e cito-lhe de cor uma parte de um poema cantado pela Maria Bethânia («tocando em frente»), de que gosto muito. M. sorri na despedida – um sorriso bonito –, mas deixa escapar: «Sabe o que vai custar-me mais? Começar a fazer quimioterapia!»