O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

29.8.07

A morte de Eduardo Prado Coelho

Uns dias na aldeia natal, Montes da Senhora (Beira-Baixa). Sinto-me bem na casa de xisto construída pelos meus pais, onde vivi parte da infância, mas nada é como dantes, quando o meu pai era vivo e a minha mãe ainda não tinha recolhido ao lar. Sinto-me bem no refúgio beirão e ao mesmo tempo invade-me um enorme vazio, tanto mais quando se me deparam imensas lembranças: as fotos, as ferramentas que permanecem nos mesmos lugares, a adega agora sem vinho, os cozinhados da ti Martinha...

Um dia encaixotei muitos dos livros que tinha em Lisboa e levei-os para a casa dos meus pais. Os anos passaram e só agora foram abertos, graças à iniciativa da minha mulher, a Mila, que viajou para a aldeia no início de Agosto. Num dos anexos da casa, que em tempos serviu de cozinha para os animais, ela meteu mãos à obra e ali nasceu uma pequena biblioteca. Os livros estão agora arrumados em prateleiras, há uma lareira para enfrentar o rigor do Inverno, dois sofás velhinhos e umas garrafinhas de jeropiga caseira, ainda da lavra do meu pai. Deu-me prazer revisitar os «meus» livros e não resisti a trazer alguns de volta.

À tardinha, abro as janelas para refrescar a casa de xisto. Na hora de deitar, uma osga solitária vagueia pelo quarto, meio amedrontada. Foi o suficiente para a Mila não dormir, mesmo depois de o sáurio se ter sumido por um buraco qualquer... Vê-se que nunca esteve em África!

Preciso de percorrer cinco quilómetros para comprar jornais. Aproveito para tomar um cafezinho e dou conta da morte de Eduardo Prado Coelho. Li alguns dos seus livros. Em «O Reino Flutuante» e «A Palavra sobre a Palavra» ajudou-me a descobrir poetas que hoje muito admiro. Perdeu-se um grande crítico literário!