Essa palavra «fogareiro»…

Um dia perguntei-lhe a razão de ser da palavra fogareiro. Respondeu: «Sabe, isso chama a gente àqueles que andam sempre de fogo no rabo. O fogareiro precisa que a válvula seja puxada várias vezes para entrar ar e o petróleo subir. Pois a gente gosta de parar um bocado quando vai meter gasóleo na bomba ao lado da estação do Rossio e comer uma bifana no Beira Gare. Depois conversar um bocado e só depois voltar ao trabalho. Não somos fogareiros. Os fogareiros nunca páram para petiscar e só pensam na folha. Como diz o outro, não comem para não ir ao bacio. Fique-se com esta: todos os fogareiros são chóferes de praça, mas nem todos os chóferes de praça são fogareiros.»
É tudo uma questão de atitude perante a vida, concluo eu, tantos anos depois desta conversa dentro do seu velho Austin verde e preto, ali na Rua das Laranjeiras, ao pé do J. J. Gonçalves.
José do Carmo Francisco
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