O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

21.9.07

Na gíria do futebol é comum ler que as coisas saem bem a uma equipa quanto esta já criou «automatismos». Confesso que prefiro ver a imaginação e a criatividade à solta, mas reconheço que as «jogadas estudadas» são úteis e podem resolver um jogo. Em todas as profissões, há gestos que se repetem. E até mesmo os escritores e os jornalistas precisam de criar um «estilo» para poder comunicar as suas ideias.
A propósito desta vida de «fogareiro», também já criei «automatismos». A princípio, quando comecei a circular pelas ruas de Lisboa, qualquer braço no ar era sinónimo de cliente. Parava e, afinal, tratava-se de um arrumador de carros... Agora já estou vacinado contra esse descuido, mas não totalmente. Um destes dias, descia a Avenida Almirante Reis no meu carro particular e vi, ao longe, uma pessoa com o braço no ar. Parei, sem me aperceber de que atrás de mim vinha um táxi. O que terá pensado a senhora?
No táxi que conduzo, um Mercedes 200, o travão de mão é accionado com o... pé. Quanto mudo para o meu carro particular, passo a vida a travar com o pé, mas em vão... E vice-versa!
Também acontece, por vezes, esquecer-me do destino da «corrida». Frequento muito a praça de táxis do Hotel Altis, que dá bons serviços para o aeroporto (e não só...). Um cliente pediu-me para transportá-lo ao Parque das Nações, mas quando me apercebi, estava na direcção do aeroporto. Nada disse, mudei a agulha e o cliente (estrangeiro) nem deu conta do engano.
Qualquer dia, de tão automático, ainda acordo «robot»!