O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

17.9.07

Parte I – A agressão de Scolari a Dragutinovic só pode merecer condenação, independentemente das razões que lhe assistam, algumas das quais não consegui vislumbrar nas imagens televisivas. O «Expresso» avançou que o relatório do árbitro abona a favor do seleccionador português, tanto mais que mostrou cartão vermelho ao jogador sérvio. Ou seja, Scolari terá reagido a uma provocação. Poderá funcionar como atenuante, mas ainda assim o seu gesto foi inadmissível.

Parte II – Há dias quase perdi a cabeça. Circulava em Entrecampos, dirigia-me para a Avenida da República e tentava ocupar a «minha» faixa de rodagem. Não me apercebi de ter cometido qualquer falta, mas subitamente pára um carro a meu lado e apenas ouvi: «Filho da p...! Cabrão!»
Fiquei fora de mim! Em vez de seguir para a Avenida da República, segui o outro condutor, que se dirigia para a Avenida das Forças Armadas. Quando ele parou no sinal vermelho, saí do carro e fui na sua direcção, mas ele fechou-se a sete chaves. Muita coisa me passou pela cabeça, já nem sei o que lhe disse, quando me lembrei dos clientes brasileiros. Voltei atrás, pedi-lhes desculpa e seguimos viagem.
Agora reconheço que o meu gesto foi incorrecto, até porque transportava clientes. Mas pergunto: os insultos de um imbecil não mereciam uma boa esquerda, à Scolari? Se não fossem os clientes brasileiros, não sei como tudo teria acabado... É por estas e por outras que compreendo (embora não aceite) certos gestos... Ainda bem que não sou seleccionador nacional!

PS – Mais calmo, ainda me diverti com o casal brasileiro, depois de lhes ter pedido mil desculpas. Afinal, disseram-me que cenas destas, comparadas com as que acontecem no Rio de Janeiro, não passam de coisas sem importância. «Tenha calma, senhor Manuel», dizia-me a senhora, ao mesmo tempo que quis saber o significado da palavra «cabrão». «É ofensiva?», perguntou-me. E de que maneira!