O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

10.9.07

Tenho acompanhado, como tanta gente, a evolução do desaparecimento da criança inglesa Maddie, na Praia da Luz. Um caso que ganhou proporções gigantescas a nível dos media, quando outros semelhantes são votados ao esquecimento. Marketing à parte, tenho seguido com atenção as opiniões de Moita Flores, o antigo criminologista (inspector da PJ) que me parece ser uma voz muito autorizada para falar da matéria.
Nos dias a seguir ao desaparecimento de Maddie, disse no círculo de pessoas que me rodeiam que achava estranho o comportamento de sua mãe, Kate, mesmo salvaguardando a velha máxima de que qualquer pessoa é considerada inocente até prova em contrário. Oxalá a criança inglesa apareça sã e salva, mas como não acredito em milagres...
Voltemos ao parágrafo anterior: sempre que fixo o rosto de Kate, nas imagens televisivas, não vislumbro uma lágrima – antes vejo um rosto frio que não permite qualquer leitura sobre o seu estado de alma.
E a propósito do rosto de Kate, veio-me à ideia uma conversa antiga com um velho amigo algarvio, que estranhava o facto de um seu familiar beirão (de Castelo Branco) chorar por tudo e por nada. Um dia perguntei-lhe: «Vocês, algarvios, não choram?» E ele respondeu-me: «Choramos, mas para dentro!»
Bem sei que nem todos sentem da mesma maneira. E se calhar os beirões, como é o meu caso, são demasiado lamechas... Choram de alegria e de tristeza, choram nas despedidas e nos reencontros...
Não conheço o mundo de Kate e talvez esteja a fixá-la com os meus olhos de beirão. Talvez... Mas, para mim, continua a ser um enigma o rosto daquela mulher!