O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

5.4.11

Há, em Lisboa, colégios para meninos ricos e escolas para meninos pobres. Todas as manhãs e fins de tarde, junto aos colégios, é uma roda-viva de carros-topos-de-gama – uns conduzidos pelos pais, outros por motoristas particulares – que transportam os meninos ricos. Outros, ainda, têm contratos com as várias centrais de táxis e à hora marcada lá está a operadora a chamar um «móvel» ao colégio tal para transportar o menino tal.
Os meninos ricos não têm de carregar com as pesadas mochilas nem com os instrumentos musicais. Sim, porque nos colégios para meninos ricos há aulas de música a sério, como pude espreitar, um dia destes, num dos colégios da Lapa, enquanto aguardava.
Os meninos pobres, ao invés, moram em bairros pobres. E transportam as mochilas às costas, faça chuva ou faça sol. Compram gomas na papelaria mais próxima da escola e vão a pé para casa. Carregados de livros e de mais não sei quê... De sonhos?
Há dias viajava na zona de Chelas e depararam-se-me três meninos pobres que foram surpreendidos pela chuva intensa, quando se dirigiam para a Escola Secundária das Olaias. Parei e dei-lhes boleia. Foi apenas o gesto de um adulto que também já foi menino. Pobre!