O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

19.10.07

Muito se escreveu já sobre a Guerra Colonial. António Lobo Antunes, Manuel Alegre, João de Melo, Fernando Assis Pacheco, Pepetela..., estes alguns dos escritores que nos transmitiram a sua visão sobre a mesma. Agora surge uma grande reportagem assinada por Joaquim Furtado, cujo primeiro (de 18) episódio passou na última terça-feira à noite na RTP1. Vi-o com muita atenção e fiquei a conhecer «coisas» novas sobre uma guerra em que também participei. Um trabalho jornalístico (histórico) de grande fôlego!
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Évora, 1972. Sai a lista de mobilizados para a guerra colonial. Angola, Moçambique, Guiné... Cabe-me esta última na lotaria. Na altura, tinha a ideia de que ser mobilizado para a Guiné era como que um passaporte para a morte. E, em certa medida, era verdade. Eu, o Moreira e o «Pica» jantámos no Café Arcada. A seguir mandámos vir uma garrafa de uísque (guardo foto desse momento) e conversámos toda a noite sobre o nosso destino de futuros combatentes coloniais. O Moreira tinha já uma boa «bagagem» política e foi categórico: «Não vou para Moçambique!» E não foi! Zarpou para França, a «salto», onde uma irmã lhe deu guarida. O «Pica» rumou a Angola, onde viria a morrer. Por mim...
... Tinha alguma consciência política da situação do país, até pelo facto de trabalhar num meio (um jornal) onde abri os olhos para o Mundo. Vi textos cortados pela Censura; li alguns livros proibidos da época; ouvi as canções do José Afonso; escutei conversas de antifascistas que se «soltavam» nas tertúlias do Bairro Alto, na altura poiso de jornalistas e escritores. E fiquei a pensar na frase do Moreira («Não vou para Moçambique!»)... Também quis dar o salto. Contactei pessoa que vivia em Paris e... fiquei a aguardar. Até hoje!
Como eu, milhares de jovens não «vestiram a camisola» naquela guerra. Estávamos lá e não estávamos... Num beco sem saída, num Portugal «sucessivamente adiado» e sem um deus qualquer que nos valesse...