O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

5.12.07

Gare do Oriente – «Preciso de estar antes das 9.30 h no Estabelecimento Prisional de Lisboa, na Rua Marquês de Fronteira. Acha que consegue?» Atravessar Lisboa àquela hora da manhã (nove) é muito difícil, por isso, limito-me a responder: «Vamos tentar! Posso inventar?» Escolho um percurso alternativo, fujo à Segunda Circular e à Avenida Estados Unidos da América, duas vias importantes de acesso ao centro da capital. Chego uns minutinhos antes da hora. E respiro de alívio...
[A jovem tem ar cansado, mas os olhos, azul cor de mar, esses sobressaem no espelho retrovisor.]
«A minha filha passou mal a noite. Só adormeci pela manhã e... atrasei-me», diz, enquanto segura um saco de comida para o pai da sua menina (de um ano), a cumprir pena naquele estabelecimento prisional.
– A sua filha também tem uns olhos assim bonitos?
– São iguais aos meus...
Antes de sair a correr, a jovem desabafa com o taxista: «Ele não tinha necessidade de se meter nisto...»