O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

7.12.07

Manuel António Pina escreveu sobre um certo jornalismo que anda à solta, no qual, como sublinhou, nada acontece, tudo «poderia ter acontecido» ou «poderá acontecer». Com a devida vénia, respiguei o texto que se segue do site do Clube de Jornalistas.

Uma das características de algum jornalismo que hoje por aí se faz é que nada acontece, tudo «poderia ter acontecido» ou «poderá acontecer». Outro dia pus-me a contar os futuros e condicionais de uma «notícia» de uns poucos de períodos publicada no «Correio da Manhã» sobre o desaparecimento de Maddie McCann. Ao todo, contei 10 condicionais e futuros hipotéticos para um único e glorioso «foram».
A «notícia», assinada por uma jornalista «de investigação», era só uma ociosa enumeração de suposições: as análises «podem ser» hoje enviadas para Portugal; um cão pisteiro «ter-se-á mostrado» nervoso, o que «poderia indiciar» não sei o quê; «a utilização de cães pisteiros «terão sido sugeridos» (sic) pelos ingleses; um amigo dos McCann «terá levantado» suspeitas; um inglês «poderá ser extraditado»; os McCann «terão arrendado uma casa»; etc...
Por outro lado, as raras vezes que, em tal jornalismo, algo acontece, acontece «alegadamente»: a mulher foi alegadamente atropelada, o sinal verde estava alegadamente aceso, o automobilista teria alegadamente dois gramas de sangue no álcool. E tudo segundo fontes «próximas» de qualquer coisa, pois os jornalistas, hoje, não afirmam nem confirmam, repetem. Por estas e por outras, cada vez admiro mais o «Borda d'Água»...

Manuel António Pina