O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

4.2.08

Balada para Luciana

Luciana num balcão
Debruçada no sorriso
Empresta calor da mão
Quando café é preciso

No combate à tristeza
Derramada pela rua
No centro duma mesa
Seu sorriso continua

Não havia o adoçante
Adoça com seu olhar
Simpatia no instante
Faz do balcão o altar

Onde a nova liturgia
Como se numa oração
Celebrando a alegria
Do encontro no balcão

À esquerda é o Chiado
E o Castelo é à direita
O sol bate no telhado
A tarde ficou perfeita

Quando olha para o rio
Não repara na distância
No nevoeiro mais frio
Recorda a sua infância

Em baixo as duas linhas
Além é a Sé de Lisboa
Não há mesas sozinhas
Quando o café se povoa

De gente que não repara
Na pressa, no seu bulício
Luciana então já separa
As tarefas do seu ofício

Tomou o sabor profundo
Do café que nos vendia
Trazendo do seu mundo
Um grão de pura alegria

José do Carmo Francisco