O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

14.2.08

Terceira balada para Luciana

Luciana quase menina
Tem o jeito de mulher
Lavando na sua rotina
Chávena, pires, colher

Envolvida numa espuma
As mãos na água quente
Não pensa coisa nenhuma
É trabalho transparente

Fica um balcão brilhante
Com brilho do seu asseio
O seu olhar tão distante
Lembra lugar donde veio

Nem repara que na mesa
Se veio sentar Cesário
Chegou aqui de surpresa
Ficou sentado ao contrário

Para a Rua dos Fanqueiros
Fica a loja de ferragens
Os poemas tão pioneiros
São a força das imagens

O conde de Monsaraz
Vem a chegar em atraso
O café dá-lhe outra paz
Quando ele sai ao acaso

Pelas ruas desta Baixa
Melancolia não tem fim
E o pobre com a caixa
É um professor de latim

Luciana sorri, continua
Põe ordem no seu balcão
O poema vem para a rua
Transforma-se em canção

José do Carmo Francisco