O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

29.3.13

Eduardo Lourenço

Não é a primeira vez que transporto gente ilustre. António Ramos Rosa, Dinis Machado, Raul Solnado, Urbano Tavares Rodrigues… e tantos outros. Sou discreto, mas fico feliz quando estabelecemos diálogo e… até com vontade de continuar a viagem… Desta vez, o meu cliente é um peso-pesado da cultura lusa e não só… Eduardo Lourenço.

Destino: Palácio da Ajuda, onde está presente a exposição de Joana Vasconcelos. O professor esquece-se do convite, deseja comprar um ingresso, mas a fila é enorme e adia a visita. Regressamos à Avenida da República (Pastelaria Versalhes).

Senta-se a meu lado, sempre muito atento aos locais por onde transitamos. «Que edifício é este?», questiona-me, à passagem por um Prémio Valmor, na Av. Fontes Pereira de Melo. Sei que estou em presença de um dos grandes pensadores portugueses, mas evito (sempre) perguntas patéticas, antes deixando a conversa fluir (ou não). Apesar disso, noto que se estabelece alguma empatia, ainda mais quando se apercebe de que li alguns dos seus livros e muitas das suas crónicas, mesmo sem conhecer em profundidade a sua obra, face à sua complexidade.

Tudo isto para dizer que foi com enorme prazer que transportei um Homem que muito admiro. Sim, ainda há portugueses por quem tenho admiração…