O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

9.10.13

«Vim para Portugal por causa do meu coração»

Se eu fosse poeta, todos os dias escrevia um hino a Lisboa. Como não tenho arte e engenho para tanto, limito-me a escrever bilhetes-postais. É jovem, o português não é fluente, mas dá para dialogar: -- Não se importa que transporte o meu gato? -- À vontade! Também gosto dessa bicharada... -- Então leve-me, por favor, à Clínica Veterinára do Restelo. [Dia de greve no Metro, taxistas sem mãos a medir. Notícias cinzentas, repetidas, cujo tema forte de hoje foi a ida de um tal Machete ao Parlamento. Estou cansado!] A viagem deu para descomprimir. A jovem, de uma simpatia desarmante, arejada, bonita por fora e por dentro, mostrou-se à vontade com o taxista. Falámos de gatos (também sou entendido na matéria…) e de muito mais. Anita, de seu nome, é belga, filha de mãe grega. Gosta dos países do Sul da Europa (quem diria?). -- Como veio parar a Portugal? -- Foi por causa do meu coração… Meu deus! Ainda há gente que se apaixona por Portugal por causa do coração! Se ao menos uns fulanos que dão pelo nome de Troika (e outros rapazinhos ex-Jotas qualquer coisa…) tivessem coração?! Boa noite! Façam o favor de ser felizes… (como dizia o grande Raul Solnado).