O fogareiro

Estórias de um motorista de táxi de Lisboa

24.2.07

É sul-africano de ascendência portuguesa e vive a maior parte do tempo em Luanda. Os seus negócios, além de Angola, estendem-se a Portugal, Brasil e África do Sul. Estabelecemos uma boa conversa, mas ficou inacabada – por isso trocámos mails e telefones.
Revelou-se bem informado sobre a realidade angolana; eu estava ávido de notícias de um país que nunca visitei mas com o qual estabeleci, recentemente, uma relação estreita, mesmo à distância.
Fiquei a saber que seis por cento do petróleo dos EUA vem de Angola, que também já é o principal fornecedor de «ouro negro» à China. Um país com este potencial só pode augurar um futuro promissor. Bem merece, o povo angolano!

19.2.07

Bueda beijinhos pa todos

Um post da nova vaga, da Inês. Mostra a forma como os jovens se exprimem – pa, qd, k, ñ, smp, bueda...

Aqui tá mais uma coisa k adoro. Desenhos animados. De vez em qd, dou por mim a ficar c os nervos à flor da pele qd o coiote cai mais uma vez nas próprias armadilhas ou qd o tom ñ apanha o jerry... OU QD AQUELA COISA HORROROSA DE NOME TWEETY SE PÕE A DIZER «I TOT A TAW A PUDDY CAT!». Detesto aquele pássaro! Complica-me o sistema... Adiante... Chego ao ponto de esperar pelas cinco da tarde pa ver o Disney Channel e ver o House of Fun ou lá cm se chama, onde todas as personagens da Disney se juntam a tomar um copo... É BUEDA CURTIDO!!! Sou uma amante de cartoons. Acho k smp vou gostar de vê-los e tenho a certeza de k ñ sou a única a pensar assim. De vez em qd solto a criança k há em mim e lá vai ela agarrar-se à tv ligada no Cartoon Network e afins. Gostava k me dissessem quais são ou foram os vossos desenhos animados favoritos. É smp bom recordar. Beijinhos pa todos!

Perguntas menos inteligentes

Não resisto a transcrever, com a devida vénia, este «post» giro do blog «Ao Sabor da Aragem»:

– Porquê a palavra «abreviação» é tão comprida?
– Porque é que para encerrar o Windows clicamos sobre o iniciar?
– Porque é que a limonada é à base de essências de limão e o detergente à base de limões verdadeiros?
– Porque não há comida para gato com sabor a rato?
– Porque é que uma comida para cão tem «gosto melhorado»? Quem a provou?
– Porque são esterilizadas as agulhas que usam na eutanásia?– Se voar é uma coisa tão segura, porque chamam «terminal» ao aeroporto?
– Porque carregamos com mais força nos botões do telecomando quando as pilhas estão quase sem carga?
– Porque se lavam as toalhas de banho? Não é suposto estarmos limpos quando as utilizamos?
– Porque é que os pilotos kamikaze usavam capacetes?
– Como é que os cartazes «proibido pisar a relva» chegam ao meio dela?
– Quando o homem descobriu que a vaca dava leite, que pretendia ele, concretamente, fazer nesse momento?
– Se uma palavra está mal escrita num dicionário, como o saberemos?
– Porque é que o sacana do Noé não esmagou os dois mosquitos?
– Porque é que as ovelhas não encolhem quando chove?
– Porque é que «separados» se escreve com uma só palavra e «todos juntos» precisa de duas separadas?
– Porque é que os estabelecimentos abertos 24 horas por dia têm fechaduras e trancas?

18.2.07

Guia prático (mínimo) do hífen

Ab (antes de R)
Ad (antes de R)
Além (por possuir acento gráfico)
Ante (antes de H)
Anti (antes de H-I-R-S)
Aquém (por possuir acento gráfico)
Arqui (antes de H-I-R-S)
Auto (antes de vogal-H-R-S)
Bem (antes de vogal-H)
Circum (antes de vogal-H-M-N)
Co (quando tem o sentido de a par)
Com (antes de vogal-H)
Contra (antes de vogal-H-R-S)
Entre (antes de H)
Ex (quando significa um estado anterior: ex-director)
Extra (antes de vogal-H-R-S)
Hiper (antes de H-R)
Infra (antes de vogal-H-R-S)
Inter (antes de H-R)
Intra (antes de vogal-H-R-S)
Mal (antes de vogal-H)
Neo (antes de vogal-H-R-S)
Ob (antes de R)
Pan (antes de vogal-H)
Pós (por ter acento gráfico)
Pré (por ter acento gráfico)
Pró (quando significa a favor de)
Proto (antes de vogal-H-R-S)
Pseudo (antes de vogal-H-R-S)
Recém (antes de qualquer palavra)
Semi (antes de H-I-R-S)
Sob (antes de B-H-R)
Sobre (antes de H)
Sub (antes de B-H-R)
Super (antes de H-R)
Supra (antes de vogal-H-R-S)
Ultra (antes de vogal-H-R-S)
Vice (quando o segundo elemento tem vida à parte)

15.2.07

Lisboa acordou com chuva miudinha. Desço a Rua do Paraíso e uma cara conhecida faz-me sinal – Sara Tavares. Gosto da cantora e muito em especial de «Balancê», o seu último trabalho. Nunca forço a conversa – se ela fluir, tanto melhor... Mas não foi difícil o diálogo.
Sara Tavares, além da excelente voz e do jeito natural para cantar, é bonita e simpática. Aliás, já conhecia as suas imensas qualidades, enquanto pessoa e artista, depois de ver a entrevista de Ana Sousa Dias, na RTP2.
Praça 5 de Outubro. Mais uma cara conhecida, por quem também tenho admiração – Ferreira Fernandes, grande repórter e cronista, agora ao serviço do «Correio da Manhã» e da revista «Sábado»; um «peso-pesado» do jornalismo português que leio desde os tempos do «Diário Popular» e de «O Jornal».
Com gente assim, até dá gosto ser taxista.

10.2.07

Praça dos Jerónimos (sempre!) – Pouco movimento. Já li o jornal de ponta a ponta e clientes... zero! Saio do carro para desentorpecer as pernas e fumar um cigarrinho. Aproxima-se um fulano oriental com máquina fotográfica a tiracolo. Japonês, claro! Mostra-me uma foto do Cristo Rei, tirada deste lado do rio, e pede-me para o transportar à outra margem. «Já safei a folha», pensei. Atravesso a ponte 25 de Abril. Quase uma hora de espera no Cristo Rei, enquanto o japonês vai lá acima fotografar Lisboa. Regressamos ao hotel, na zona da Praça de Espanha. À passagem pelo Aqueduto das Águas Livres, pede-me para abrandar um pouco a marcha e saca novamente da sua bomba digital. Agradece-me com aqueles olhinhos de felicidade, como quem acaba de ter um orgasmo. Fotográfico!

8.2.07

Sou sensível ao bailado, mas poucas vezes assisti ao vivo a esta magnífica expressão artística. Sempre me fizeram impressão as piruetas em bicos de pés. Sinto arrepios, apesar de imaginar que os sapatinhos deverão estar apetrechados para não causar estragos nos pezinhos delicados das bailarinas.
Há dias transportei uma professora de dança clássica ao Conservatório Nacional, no Bairro Alto. Conversadora, contou-me que também foi bailarina e não escondeu que uma vida inteira dedicada ao bailado lhe causou sequelas nos pés e na coluna – daí a dificuldade em entrar e sair do táxi.
Ainda assim, confessou-me que se pudesse voltar atrás seguiria as mesmas pisadas. Para atingir a perfeição é preciso ter asas, mas também algum sacrifício.

5.2.07

A noite do Ano Bom do Gasogénio

Hoje gostaria de revelar um texto não meu mas de um poeta amigo que respirou comigo o mesmo ar da Estremadura e no seu livro «Roteiro Cego» recordou a passagem do ano deste modo:

Na noite de Ano Bom
iam os rapazes solteiros
para a Casa de Santa Susana
pequeno e vetusto pardieiro
junto à capela de São Gregório Magno
Aí se guardavam alfaias religiosas
lanternas de procissões
andores, bandeiras, círios
foguetes sobrados da última festa
Levavam vinho e pão
iscas de bacalhau, algum chouriço sacado à chaminé
fritavam filhós e velhozes
bebiam púcaros de café de cevada
eram pobres e crédulos, às vezes brigões
tratavam-se por alcunhas
discutiam Azevedo, Travassos, Peyroteo
Félix, Rogério, Ben David ou Teixeira – o gasogénio
à meia noite lançavam os foguetes da passagem
de um ano conformado à modéstia para outro seu igual
e depois percorriam as ruas escuras
esburacadas, lamacentas
tocavam chocalhos, campaínhas, harmónicas de beiços
cantavam desajeitadas loas
parando à porta de outros pobres ou remediados
meia dúzia de ricos
alguns são vivos mas a dureza das coisas
decerto os fez esquecer a velha casa de Santa Susana

Faltaria ainda dizer que se trata de memórias dos anos quarenta e cinquenta do século vinte, tempo de amor à camisola. Esse Teixeira referido no poema nasceu na Horta e tinha a alcunha de Semilhas, pois era filho de madeirense e dizia semilhas em vez de batatas. Mas a alcunha de gasogénio nasceu de no tempo da guerra os automóveis de aluguer (táxis) andarem com a botija de gasogénio às costas. Teixeira era amarrecado e daí a alcunha de gasogénio que o poema regista com ternura.

José do Carmo Francisco