«Os carros dormem na rua»
O meu bilhete-postal de hoje vai direitinho para o Mauro (Taxitramas), grande escritor e meu companheiro de viagens, em Porto Alegre.
Caro amigo: Foi um enorme prazer ter conhecido a tua conterrânea Márcia, uma jovem da minha idade que mora aí, no Bairro da Floresta (conheces?). Decidiu atravessar o Atlântico para conhecer as suas origens (italiana e portuguesa) e confessou-me que ficou apaixonada por Lisboa. As pessoas, as colinas, a comida, a luz (única), o rio Tejo…
Falámos muito. De Portugal e do Brasil… Fiquei a saber algo mais sobre a tua cidade.Que foi fundada por portugueses dos Açores. E que muitos italianos e alemães também rumaram ao Rio Grande do Sul.
Temos um pouco a ideia, aqui em Portugal, de que no Brasil é tudo cor-de-rosa: as praias, as mulheres bonitas, o samba, o futebol… Ao dialogar com a Márcia, mulher esclarecida e com os pés bem assentes na terra, descobrimos que esse imenso país ainda tem longo caminho a percorrer em vários domínios.
Por exemplo: «É difícil fazer avançar o país, por causa da maldita corrupção. É o cancro da sociedade brasileira [apenas a brasileira?] Os políticos só fazem besteira. »
Outro aspecto que a Márcia focou: a segurança. «Aqui, em Portugal, os carros dormem na rua. No Brasil, é impensável deixar os carros na rua, à noite. E não apenas em São Paulo ou no Rio de Janeiro. O fenómeno da violência estendeu-se a todo o Brasil.»
Se é assim (quem sou eu para duvidar da Márcia?), como será na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos? «Vai ser muito complicado. A polícia, sozinha, não vai dar conta do recado. Terá de avançar o exército…»
Se calhar ando a ver muitas telenovelas, mas continuo a ter grande fascínio pelo teu Brasil. Sempre!
Abraço!